2.12.01

Book, Interrupted


Não sei se alguém costuma cultivar esse hábito, mas desde a adolescência (com um intervalo no começo da década de 1990) costumo fazer uma lista dos livros que li ao longo do ano. Quando comecei, em 1983, a lista era no papel. Hoje em dia, evidentemente, ela existe como arquivo de Word no meu computador. Vou anotando (ou digitando, deixem-me corrigir) todos os livros que começo a ler.

E aí é que está o busílis: vocês notaram que eu anoto os livros que começo a ler... independente de ter chegado ao fim deles ou não. E agora, entre traduções e matérias a fazer, além da responsabilidade de manter este modesto weblog atualizado - o que não tem sido fácil nos últimos tempos - recorro novamente à minha lista de 2001 e me deparo com a missão de retomar a leitura dos livros interrompidos.

Não é difícil lembrar deles: todos os livros que, por um motivo ou outro, deixo de lado temporariamente recebem dois asteriscos ao lado. Bastou-me conferir a quantidade de títulos, por assim dizer, "asteriscados": vinte e seis livros no total, entre ficção e ciências políticas. Abaixo, uma amostragem:

Sir Richard Francis Burton – Edward Rice
The Prisoner of Zenda – Anthony Hope
All Tomorrow’s Parties – William Gibson
Divine Invasions – A Life of Philip K.Dick – Lawrence Butin
The Economist – Xenofonte


Metodicamente, de um jeito que hoje só o Ivan Lessa (a quem tive o prazer de conhecer em Londres há priscas eras) teria a pachorra de fazer, começo a partir de hoje a retomar o fio dessa louca meada, em paralelo com as leituras cotidianas. O primeiro é a sensacional biografia de Richard Burton: não o ator, claro, mas o grande explorador inglês que, entre muitas outras coisas, fez a primeira tradução das Mil e Uma Noites para um idioma ocidental, procurou as nascentes do Rio Nilo e chegou a ser cônsul do Reino Unido no Brasil em 1865 (coisa que até hoje constitui motivo de orgulho para os habitantes de Itabirito, cidade a 90km de Ouro Preto, onde nasceram meus padrinhos - Burton visitou o morro que dá nome à cidade antes da fundação do povoado, e registrou o fato em seu diário). O livro, publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 1991, ainda pode ser encontrado nas livrarias.

Leitura do momento: enquanto isso, continuo minhas leituras. A bola da vez é outra biografia, mas desta vez um produto nacional: No Tempo de Ari Barroso, de Sérgio Cabral, da Lumiar Editora. Um excelente livro sobre a vida de um dos maiores compositores brasileiros, o mineiro de Ubá que amava o Rio e a Bahia como poucos. Apenas um reparo: a decisão de Sérgio Cabral em modificar a grafia dos nomes de Ary Barroso e sua esposa Yvonne, em favor da grafia atual (o livro registra Ari e Ivone). Não prejudica o livro, mas incomoda um pouco ver uma obra que se pretende tão completa no registro de uma época esquecer deliberadamente o fato histórico. Em nome de um falso purismo, adultera-se o nome do biografado. Não sei se o Professor Pasquale concordaria comigo, mas a História tem que ser registrada como aconteceu, e não como gostaríamos que tivesse acontecido (eu não leio Eça de Queirós, mas Eça de Queiroz). Enfim, que não se desista de ler o livro por causa desse desabafo: é fundamental para se conhecer o Rio de Janeiro das décadas de 20 a 50. Sem distorções.

Harry Potter: ok, todo mundo já sabe que li e gostei. Dauro Veras e Cora Rónai, entre outros colegas blogueiros de primeira, já avisaram que estão esperando meus comentários. Na verdade, eu estou querendo ver o filme de Chris Columbus para fazer uma matéria abrangente, mas para começo da conversa já se pode dizer o seguinte: por favor, não comparem J.K.Rowling com Monteiro Lobato. Nem para o bem nem para o mal. Harry Potter não tem nada a ver com O Sítio do Picapau Amarelo. De leve e a demain, que eu vou em frente.