Motivos de força maior. Para quem andou por aqui nos últimos dias, um aviso: o Lanceiro Livros não morreu. Esteve meio que em hibernação forçada por algum tempo, mas está voltando aos poucos. Hoje, um apanhado do que o Lanceiro recebeu e já está lendo. Nos próximos dias, mais e melhores novidades.
Livros Recebidos:
. Entre os Fiéis, V.S.Naipaul (Companhia das Letras) – O primeiro de dois livros em que o ganhador do Nobel de Literatura deste ano analisa o Islã. Leitura obrigatória para quem quer saber o que aconteceu no momento da revolução iraniana e entender onde países como Índia e Paquistão se encaixam no atual esquema das coisas. Estou aguardando a chegada do segundo volume, Além da Fé, que conta a segunda viagem de Naipaul, em 1998, para fazer um dossiê sobre o mais recente Nobel. Obrigado a Líbia, da Companhia das Letras, pelo envio.
. A Religação dos Saberes – O Desafio do Século XXI, jornadas temáticas idealizadas e dirigidas por Edgar Morin (Bertrand Brasil). Fruto direto de um trabalho para o Ministério da Educação da França realizado em 1998 e que também gerou outro livro de Morin, já comentado por nós, A Cabeça Bem-Feita, este livro aprofunda muito as questões esboçadas na obra anterior, propondo uma nova metodologia de ensino, em que a complexidade seja levada em conta. Fundamental para quem deseja discutir os rumos da educação – independente do país em que viva.
. Showrnalismo – a notícia como espetáculo, José Arbex Jr. (Casa Amarela) – Um livro sobre jornalismo que dá o que pensar. Literalmente. Arbex foi um dos melhores (se não o melhor) jornalista internacional que a Folha já teve, e neste seu livro ele é quem dá um show de jornalismo ao falar do poder da sociedade de informação e alertar para seus defeitos. Arbex não é pessimista, é realista. De mais a mais, como deixar de ler um livro que abre com uma epígrafe de William Burroughs e tem prefácio de João Pedro Stédile? Não é um livro para principiantes, mas não foi Tom Jobim quem disse que o Brasil também não é para principiantes? Leitura mais do que obrigatória. Não só para jornalistas, para todos.
Arqueologia literária
Depois de um bom tempo afastado da Berinjela, uma visita hoje me revelou uma grata surpresa: um exemplar de Cibernética e Comunicação, coletânea de artigos publicada pela editora Cultrix em 1973 e organizada por Isaac Epstein, então professor de Fundamentos Científicos da Comunicação na Faculdade de Comunicações da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), de São Paulo. Entre os artigos, uma raridade: Computadores e Inteligência, de Alan Turing. Criador do conceito de inteligência artificial e pai dos computadores como nós os conhecemos hoje, Turing teve um papel fundamental na vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, mas seu fim foi trágico: preso por homossexualismo na Inglaterra e condenado a um tratamento hormonal humilhante e devastador, Turing cometeu suicídio em 1954, aos 42 anos de idade. Embora os artigos da coletânea sejam todos de excelente nível (outro destaque é o ensaio de W. Ross Ashby intitulado A Aplicação da Cibernética à Psiquiatria), só o de Turing vale o trabalho de escavação nos sebos.